quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Quem me roubou de mim?


Estava escrevendo uma carta para a amiga Izabel, de São Lourenço e decidi que era importante colocar o poema que encontrei lendo "Quem me roubou de mim?"
Enquanto estava escrevendo senti que era importante dividir com mais pessoas o que estava sentindo, lendo, aprendendo. O livro trata do sequestro da subjetividade e é um alerta, um alento, um rumo.
Ultimamente tenho lido coisas ou que me distraem ou que me enobrecem. Resultado: romances e filosofia. Mas filosofia daquela bonita, bem pensada, levinha porque não posso com nada que adense meu ser. Preciso de nuvens, mas nuvens que não me deixem cair, só me elevem.
Não sou beata, mas sou católica. Por formação e opção. Acredito em zilhões de coisas mas é na paz da Igreja que sinto conforto. O catolicismo e seus ritos me trazem algumas certezas sem as quais não poderia suportar algumas mazelas que vejo por aí. Papo longo, deixa para outra hora.
Estive com o Padre na Bienal, como já disse. Na verdade, não estive. Quando cheguei ao estande ele estava lanchando e não me senti confortável de pedir um autógrafo. O que é uma assinatura? É legal ter a proximidade do autor no livro em que está lendo tanto quanto a dedicatória do amigo que lhe comprou um livro. Mas, os livros do padre não são escritos para todos, mas para cada um, em particular. Então, a dedicatória já está lá. Mas mesmo através do vidro, pude sentir que alguém muito especial estava ali. No gestual, na postura, na doçura e firmeza das palavras que dirigia a seu intelocutor.
Então, para estimular a leitura deixo para vocês um poema que me impressionou.

Egoísmo

Sinto falta de você.

Mas o que sinto falta é de tudo o que é seu e me falta.

Sinto falta de minhas faltas que em você não faltam.

Sinto falta do que eu gostaria de ser e que você já é.

Estranho jeito de carecer, de parecer amor.

Hoje, neste ímpeto de honestidade que me faz dizer,

Eu descobri minhas carências inconfessáveis que insisto em manter veladas.

Acessei o baú de minhas razões inconscientes

E descobri um motivo para não conitnuar mentindo.

Hoje eu quero lhe confessar o meu não amor, mesmo que pareça ser.

Eu não tenho o direito de adentrar o seu território

Com o objetivo de lhe roubar a escritura.

Amor só vale a pena se for para ampliar o que já temos.

Você era melhor antes de mim, e só agora posso ver.

Nessa vida de fachadas tão atraentes e fascinantes;

nestes tempos de retirados e retirantes, seqüestrados e seqüestradores,

A gente corre o risco de não saber exatamente quem somos.

Mas o tempo de saber já chegou.

Não quero mais conviver com meu lado obscuro,

E, por isso, ouso direcionar meus braços

Na direção da dose de honestidade que hoje me cabe.

Hoje quero lhe confessar meu egoísmo.

Quem sabe assim eu possa ainda que por um instante amar você de verdade.

Perdoe-me se meu amor chegou tarde demais,

Se meu querer bem é inoportuno e em hora errada.

É que hoje eu quero lhe confessar meu desatino,

Meu segredo tão desconcertante:

Ao dizer que sinto falta de você

Eu sinto falta é de mim mesmo.
Padre Fábio de Melo(Quem me Roubou de Mim)
http://www.fabiodemelo.com.br/

3 comentários:

  1. Querida quase xará!
    Em agôsto passado,tive a oportunidade de assistir a um show do Pde.Fábio, que simplesmente,A D O R O! Ele é,no mínimo,encantador!Que lucidez! Que inteligência sensível,ñ? Serei "obrigada" a ler esse livro,só por sua causa!!!Como diria alguém que conhecemos: "Ai meus sais!!"
    Bjs.iluminados....

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  2. Izabel de São Lourenço???? Você tem e mail????

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  3. Não sei quem foi mais poeta aqui... adorei o post e realmente o poema é lindo.

    bjinhos

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